Nasci inquieta e desejante, autónoma para aprender e desaprender. Curiosa aventureira, comunicadora convicta.
Criadora entusiasta de pensamentos, ideias e projectos. Arquitecta. Devota obstinada da beleza e do humor imprevisiveis.





4.11.14



(Quatro minutos.)
Vinte e muitos anos de amor em quatro minutos. Lentidão nas palavras, presas entre o nó e a garganta.
São muitos anos de amor em tão pouco tempo sumidos. Em tão poucos minutos resumidos.

Há alguém, de quem gosto. Com quem me preocupo. Que pouco se importa com o mundo. Com a vida, com os outros. Com ele ou com a falta que faz a quem dele gosta. E se eu gosto.
Vive transparente. Ausente. Flutua entre o nevoeiro de um dia e outro. Num icebergue antárctico extingue-se todos os dias. 
Sabe disso, mas não se importa. 
Não quer saber.

(Dois minutos.)
Mas eu, que gosto dele como a primavera gosta do jasmim, estendo na direcção do seu imóvel eu, transparente e lasso, os meus braços carregados de carinho. Vinte e muitos anos de amor, num abraço apertado. 
Tão apertado que queima. Como o primeiro sol da primavera no jardim, depois de almoço nos dias de verão.  (Desconfio que já não se lembrará deles assim. No jardim, pés na relva, cheiro a limão. Cabeça a escaldar.)

Por enquanto, na mesma estrada que é a nossa casa, ainda andamos desencontrados. Vejo-o passar de bicicleta, rua acima. Sem capacete. Ele de cabeça na lua, eu de pés no chão.
Que seja, um dia, o meu abraço, o desafio para que pinte a vida em tons de amarelo limão. 

Um dia.

Até lá, o meu abraço será dele, todos os dias. 
Vinte e muitos anos de amor num abraço de todos os dias. Sem troco. Incondicional.  
Num envelope bonito com cheirinho a limão.

Afinal é dele que gosto, mais do que a primavera gosta do jasmim.

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