(Quatro minutos.)
Vinte e muitos anos de amor em quatro minutos. Lentidão nas palavras, presas entre o nó e a garganta.
São muitos anos de amor em tão pouco tempo sumidos. Em tão poucos minutos resumidos.
São muitos anos de amor em tão pouco tempo sumidos. Em tão poucos minutos resumidos.
Há alguém, de quem gosto. Com quem me preocupo. Que pouco se importa com o mundo. Com a vida, com os outros. Com ele ou com a falta que faz a quem dele gosta. E se eu gosto.
Vive transparente. Ausente. Flutua entre o nevoeiro de um dia e outro. Num icebergue antárctico extingue-se todos os dias.
Sabe disso, mas não se importa.
Não quer saber.
(Dois minutos.)
Mas eu, que gosto dele como a primavera gosta do jasmim, estendo na direcção do seu imóvel eu, transparente e lasso, os meus braços carregados de carinho. Vinte e muitos anos de amor, num abraço apertado.
Tão apertado que queima. Como o primeiro sol da primavera no jardim, depois de almoço nos dias de verão. (Desconfio que já não se lembrará deles assim. No jardim, pés na relva, cheiro a limão. Cabeça a escaldar.)
Por enquanto, na mesma estrada que é a nossa casa, ainda andamos desencontrados. Vejo-o passar de bicicleta, rua acima. Sem capacete. Ele de cabeça na lua, eu de pés no chão.
Que seja, um dia, o meu abraço, o desafio para que pinte a vida em tons de amarelo limão.
Um dia.
Até lá, o meu abraço será dele, todos os dias.
Vinte e muitos anos de amor num abraço de todos os dias. Sem troco. Incondicional.
Num envelope bonito com cheirinho a limão.
Afinal é dele que gosto, mais do que a primavera gosta do jasmim.
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