"(Não, não se enganaram, trata-se de um apóstrofo.)
Falo consigo, caro espectador.
E porém, tal como você... Não ignoro o odor insuportavelmente incómodo de quem ousa subir de tom e falar dirigindo-se a todos... Se ouso é por querer preceder esta história de uma introdução.
A que tenho em mente não é só a mais palavrosa e pedante, que jamais poderia sonhar... É ainda por cima horrivelmente pessoal.
Bom, a introdução...
Visto ser já claro que não serei o herói desta história, ao menos quero ter o direito de ser o seu narrador. E aliás, isso convém perfeitamente à omnisciência que me caracteriza, apesar das dúvidas que lhe poderão expressar algumas das raparigas que conheço, visto eu...
É claro que esses amores não sabem, mas... Sei estar em todo o lado ao mesmo tempo. Por exemplo aqui, no centro da França, uma região que, nos mapas, parece uma batata.
Há um ano o meu irmão Paul, que viram há pouco na minha cama, decidiu deixar a cidade e vir instalar-se aqui. Não sozinho mas com a Anna e o Loup, que é filho dela.
Para justificar a partida assegurou-me sem convicção que a vida seria mais fácil lá, no campo, do que aqui, em Paris. Depois, sem se rir, afirmou precisar de uma certa distância entre ele e nós.
Nunca revelei essa confissão dita a contra-gosto.
Mas devia. Devia tê-la aproveitado.
Nunca o devia ter deixado ir sem antes desatar num pranto. (Tivesse eu jeito para essas coisas e nada do que se segue teria acontecido.)
Bom, e agora calo-me; prometi uma introdução, não uma visita guiada.
Volto a ser personagem que não o conhece a si, nem sabe nada da história. (Tenho direito a esse ínfimo privilégio?)
Só uma última pergunta antes de o deixar, à sua vivência de espectador, podendo ser superior a tudo o que já vivi.
Será possível, verdadeiramente,
que uma história de amor nos faça atirar de uma ponte? "
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